Bairro
Praia e o Rio Taquari
Fernanda
Graziele Padilha -7º ano
Minha vida na infância era bem difícil, pois minha
família era bem pobre e numerosa, desde muito pequena eu já
trabalhava para ajudar meus pais e meus irmãos.
De manhã bem cedo, eu já estava de pé, tinha que ir
para a escola, que era longe, nossa, como era longe. Como era muito
pobre não tinha chinelos para calçar ao ir até a escola, levava-os
na mão. Os chinelos que tinha eram os de dedo, aqueles que
arrebentavam a tira e meu pai colocava um preguinho para poder
calçá-los por mais um bom tempo, pois o chinelo ainda era usável.
Ainda hoje, ao lembrar dos meus chinelos carregados na mão, em pleno
inverno, doem-me os pés, pois era sofrido ter pés e mãos
congelados pelo frio e frio doi muito. Nossa, não gosto nem de
pensar, como a gente sofria.
Como eu trabalhava muito e a escola era longe,
infelizmente parei de estudar na 5ª série; minha mãe, coitada, não
fez nada para impedir e hoje me arrependo de ter parado de estudar e
como me arrependo.
Meu velho pai era muito severo, não podíamos pedir um
copo de água que já apanhávamos, ai da minha mãe caso se metesse
para ajudar, ele ficava furioso.
Nesta minha vida sofrida, tinha raros momentos de lazer,
o principal eram os bailes do interior. Bailes que iniciavam muito
cedo e igualmente terminavam cedo e foi num desses bailes que conheci
o meu marido.
Depois de casados viemos para Lajeado com nossos filhos
e com meus pais doentes. Viemos para cá tentar uma vida melhor para
nossos filhos. Meus pais vieram nos acompanhar porque precisavam de
cuidados e cuidei deles com todo amor e carinho que os filhos devem
cuidar dos seus pais. Minha mãe faleceu um ano depois que viemos
pra cá e fiquei cuidando do meu pai que algum tempo depois também
faleceu. Como sinto saudades dos meus velhinhos! Com o dever cumprido
com meus pais restava-me dedicar o tempo integral aos meus filhos e
ao meu marido.
Quando vim para Lajeado, a cidade era muito diferente,
era bem pequena e calma. As crianças podiam brincar na rua sem
preocupação, pois quase não havia circulação de veículos e
também não havia violência. Todas as pessoas se conheciam e
enquanto nós, adultos, nos reuniamos para saborear um delicioso
chimarrão ou mate, ou seja, chimarrão com acúcar, nossos filhos
corriam pela rua brincando de pega-pega, esconde-esconde, de carrinho
de rolimã. Eles se divertiam de montão.
No centro da cidade, onde ficavam as lojas e os
armazéns, hoje chamados de supermercados, vendiam de tudo. Inclusive
eram feitas trocas de produtos coloniais como ovos, manteiga ou
shmier por produtos industrializados como farinha e açúcar e até
tecido em metro para a confecção das roupas da família. Estas
casas de comércio eram muito raras, pois comprava-se poucas
mercadorias.
Temos o conhecido Bairro Praia, assim conhecido por nós
que vivemos a mais tempo nesta cidade, onde se localizava a avenida
Beira Rio, que tem este nome por localizar-se nas proximidades do
Rio Taquari. O bairro recebeu este nome por nós porque era lá que
lavávamos nossas roupas e nossos filhos tomavam banho no tempo em
que a água era limpa.
Enquanto eu lavava as roupas com sabão feito em casa
com sebo e soda, meus filhos tomavam banho e minhas filha brincavam
nas pequenas ilhas que se formavam no Rio Taquari pois antes da
construção da barragem o rio era raso e dava para atravessar a pé.
As minhas filhas, ao me observarem lavando roupas faziam o mesmo,
pegavam as roupinhas das bonecas e lavavam do mesmo jeito que eu
lavava as nossas roupas. Aquilo me emocionava muito, ver as minhas
pequenas me imitando, pois neste momento tinha certeza que estavam
aprendendo comigo.
Era igualmente agradável ir na pracinha da Beira Rio,
sentar com meu marido para tomar um bom chimarrão enquanto as
crianças brincavam. De repente vinham outros casais com seus filhos
e enquanto conversávamos, nossos filhos curtiam a infância sem
medos e receios de serem felizes. Lembrando tudo issso me bate uma
saudade do tempo em que meus filhos eram pequenos e nossa vida na
cidade era calma e tranquila. Ai que saudade desse tempo.
Nossa, que saudades desse tempo!